Você entrou na minha vida de um jeito despretensioso. Nos
vimos numa loja de discos. Eu estava procurando algum LP de Big Bands. Você na
sessão de música clássica.
O jeito que você colocava o cabelo atrás da orelha de tempos em tempo.
O primeiro beijo foi num parque dois dias depois. Meu mundo
tinha acabado. Agora só havia eu e você.
O tempo passou. Ele correu.
Hoje te olho enquanto você toma café. Lendo o jornal que
você insiste em continuar a comprar quase todas as manhãs na última banca da
cidade.
Adoro os passeios de carro com você, mesmo que seja só pra
ir ao mercado.
O amor mudou.
Acho que é normal. Eu mesmo não sou a mesma pessoa.
Não ouço as mesmas músicas. Não leio os mesmos escritores,
não bebo as mesmas cervejas.
Mudei.
Acho que você também. Do seu jeito.
Te vejo virando as páginas, lendo, observando as fotos, os
desenhos.
Me dá uma sensação de que eu poderia parar e congelar esse
quadro nesse momento, nesse sentimento.
Saio para trabalhar depois de um beijo gentil em sua bochecha.
Logo vou me estressar com o trânsito. Com o trabalho. Com o
patrão. Com os clientes.
Mas é só temporário. Eu já volto.
Café Aquarelado #02
Conto de Lucas Beça
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