terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Constante 0019 | Mataram o cara

 

O cara entrou e pediu um cigarro solto.

- Mataram o Hugo, disse.

Dei o cigarro solto. Pagou.

- Mataram o Hugo, cara. Trinta tiro.

- Não conheço.

- O Hugo.

- Ah, respondi.

Ia repetir que não conhecia esse tal de Hugo, mas resolvi não contrariar.

A vontade era de dizer “não conheço nem o Hugo nem você, caralho”. Mas não disse isso, é claro.

- Merecia, não merecia? Me empresta o isqueiro.

Emprestei o isqueiro.

- Merecia, né?, repetiu antes de botar o cigarro na boca e acender.

- Vai ver que sim.

Ele soltou uma baforada e me devolveu o isqueiro.

- Trinta tiro, mano. Caraio.

Ele parou e ficou olhando o nada por alguns segundos. Depois olhou para mim.

- Falou, ae.

- Falou, eu disse.

Virou as costas e foi embora. Dava risadas sozinho a cada três passos.

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