A cidade derrama a sua indiferença diária. Ela não me deixa
entrar em seu apartamento. Mas tudo bem. Não vou forçar a barra. Não vou bater
na porta até meus ossos sangrarem.
Peço uma cerveja, mas não fico no balcão. Não gosto do
lugar. Pago e vou até a calçada. Sento no meio fio.
É noite. Bebo um gole. Bebo outro. Sinto falta do cigarro.
Um carro passa com uma dessas músicas chicletes que vão desaparecer daqui a
duas semanas, dois dias e dezessete horas.
Uma mulher atravessa a rua. Está acendendo um cigarro.
Pergunto a ela se ela tem um sobrando. Humm...
Tenho sim, ela responde. Tira um da bolsa. Me dá um cigarro e a caixa de
fósforo. Rio baixinho por ela ter uma caixa de fósforo e não um isqueiro. Acho
que consigo contar nos dedos as pessoas que eu conheço que não usam fósforo
apenas para o fogão.
Ela diz, você não é o cara que tira aquelas fotos da
exposição?
Sou sim, eu respondo. Ela diz que são legais. Eu digo valeu.
Dou a ela um cartão de visita. Ela vira o cartão. Tira uma caneta da bolsa e
escreve seu número. Aqui, ela diz. Liga pra mim.
Eu pego o cartão. Sorriu. Aceno.
Ela começa a andar. Dá uma olhada por cima do ombro.
Ligo dois dias depois, quando por acaso encontro o cartão
com o número na minha carteira. Marcamos de sair. Comemos pizza. Ela foi pra
minha casa. Transamos. Fumamos depois. Dormimos. No outro dia ela foi embora.
Eu estava acordado quando ela saiu. Deixei que fosse. Não disse nada.
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