sábado, 14 de dezembro de 2019

Constante 0003 | Pode ser

A cidade derrama a sua indiferença diária. Ela não me deixa entrar em seu apartamento. Mas tudo bem. Não vou forçar a barra. Não vou bater na porta até meus ossos sangrarem.
Eu entro num bar. Tão clichê. Tão mundano. Tão... Idiota? É, pode ser.
Peço uma cerveja, mas não fico no balcão. Não gosto do lugar. Pago e vou até a calçada. Sento no meio fio.
É noite. Bebo um gole. Bebo outro. Sinto falta do cigarro. Um carro passa com uma dessas músicas chicletes que vão desaparecer daqui a duas semanas, dois dias e dezessete horas.
Uma mulher atravessa a rua. Está acendendo um cigarro. Pergunto a ela se ela tem um sobrando. Humm... Tenho sim, ela responde. Tira um da bolsa. Me dá um cigarro e a caixa de fósforo. Rio baixinho por ela ter uma caixa de fósforo e não um isqueiro. Acho que consigo contar nos dedos as pessoas que eu conheço que não usam fósforo apenas para o fogão.
Ela diz, você não é o cara que tira aquelas fotos da exposição?
Sou sim, eu respondo. Ela diz que são legais. Eu digo valeu. Dou a ela um cartão de visita. Ela vira o cartão. Tira uma caneta da bolsa e escreve seu número. Aqui, ela diz. Liga pra mim.
Eu pego o cartão. Sorriu. Aceno.
Ela começa a andar. Dá uma olhada por cima do ombro.
Ligo dois dias depois, quando por acaso encontro o cartão com o número na minha carteira. Marcamos de sair. Comemos pizza. Ela foi pra minha casa. Transamos. Fumamos depois. Dormimos. No outro dia ela foi embora. Eu estava acordado quando ela saiu. Deixei que fosse. Não disse nada.


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