domingo, 21 de agosto de 2016

O besouro


Hoje eu vi um besouro na grama. Ele era verde e estava de pernas para cima. Estava chovendo. Eu estava sentado próximo a ele, encarando o nada até que meus olhos pousaram nele e não consegui mais desviar o olhar. Hipnotizado.
           
Mas é mentira. Na verdade eu o vi ontem. Eu o vi de pernas pro ar no chão da varanda, se contorcendo todo, querendo sair daquela posição e não conseguindo. Eu o chutei, foi instintivo. Não pensei. Viu um besouro de pernas pro ar e o chutei. Mas foi só um totózinho, assim ele podia se desvirar com a viagem não consentida.
           
O problema é que ele continuou do mesmo jeito, só que na grama. Andei até ele e com meu tênis tentei o mais delicadamente que pude colocar a ponta por baixo. Tentei duas vezes. Não consegui desvirá-lo. Distraí-me com outra coisa e saí dali.
           
E agora o coitado estava ali. De pernas pro ar. Sem se mexer. Um sentimento de culpa começou a se instaurar em mim. Eu podia ter ajudado aquela pobre criatura. Não o fiz. Simplesmente o deixei ali, em agonia. E agora estava morto. Ninguém ligava para ele. Ninguém. De novo, coitado...
           
De repente minha barriga começou a reclamar por comida. Tentei continuar ali, refletindo sobre a situação do inseto, mas a fome era maior. Levantei-me e fui pra cozinha preparar alguma coisa.
           
Nunca mais parei para pensar sobre aquela situação até agora. E infelizmente, depois de eu escrever isso, vou me distrair com outra coisa e esquecer completamente dele. Só irei me lembrar caso eu volte a ler isso novamente. Mas cá entre nós, quem iria querer ler um texto assim?

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